Prólogo 11. Barbatuques: “Barbapapa’s Groove”

O Barbatuques é uma das mais felizes manifestações musicais que o Brasil viu surgir nas últimas décadas. O grupo, desde 2002, construiu uma discografia respeitável, chamando a atenção para sua proposta originalíssima: fazer música com percussão corporal, usando e abusando de palmas, sapateados, vocalizações, etc. para emular instrumentos e criar novos timbres. Conheci o conjunto em 2006, quando o Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO), da USP São Carlos, incluiu a integrante Dani Zulu na programação do 2º Movimento Artístico e Cultural do CAASO – mais precisamente, nas tardes dos dias 28 e 29 de agosto. A artista ministrou uma incrível oficina de percussão corporal, de que não participei, mas acompanhei de perto, até a apresentação final. (Meu grande amigo Daniel Cantane, então diretor do CAASO, lá estava, e lembro dele no palco, junto dos demais participantes, apresentando um “samba corporal” composto e ensaiado ao longo daqueles dois dias). O álbum de estreia, Corpo do som, me impressiona desde aquela época. Ele abre com o “Barbapapa’s Groove”, composição do líder Fernando Barba, que escolho como tema do prólogo de hoje, cheia de balanço black/samba. O nordeste está bem representado com o “Baião Destemperado” (que une palmas a pífanos) e o pot-pourri “O Canto Da Ema”/”Pra Onde Vai, Valente?” (em que a primeira serve como abertura instrumental para o canto da segunda, homenageando ao mesmo tempo Jackson do Pandeiro e Manezinho Araújo). Outro destaque é “Do Mangue A Manga”, outro som cheio de groove, que remete à produção da cena recifense do manguebeat. Gosto também das releituras para os temas tradicionais da capoeira, também num pot-pourri, “Peixinhos Do Mar”/”Marinheiro Só”, conduzidos por sons vocais, incluindo muitos assovios. Mais ao final do disco, estão duas faixas impressionantes: “Num Deu Pra Creditá”, com o conjunto invadindo a cena eletrônica (!); e minha favorita de todas, “A Invasão Dos Monges”, que aproxima os universos modal sertanejo e indiano, misturando viola caipira com o sitar num épico raga caipira. Entremeados às faixas, estão três improvisos que funcionam como vinhetas: “Na Tribo”, “Ule Ule” e “Capuera”. Os Barbatuques aparecerão novamente aqui, na lista final deste 365 Canções Brasileiras. Mas, no cuidadoso projeto gráfico do blog, já não há mais espaço para nenhum disco com capa alaranjada e, como queria muito falar sobre Corpo do som, decidi abordá-lo agora. No ano que vem, será a vez de um tema do álbum seguinte – justamente intitulado O seguinte é esse, de 2005.

One reply to “Prólogo 11. Barbatuques: “Barbapapa’s Groove”

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora
close-alt close collapse comment ellipsis expand gallery heart lock menu next pinned previous reply search share star