60. Galo Preto: “Maxixe Do Galo”

Em 1994, o Galo Preto estava prestes a completar duas décadas. Em comemoração, apresentou um álbum lindíssimo desde a capa e com título autoexplicativo: Só Paulinho da Viola. Na verdade, o disco poderia muito bem ter sido batizado Só choros de Paulinho da Viola, pois o sexteto – então formado por Afonso Machado (bandolim), José Maria Braga (flauta), Bartholomeu Wiese (violão), Marcos Farina (7 cordas), Alexandre Paiva (cavaquinho) e João Alfredo Schleder (percussão) – recolheu do compositor, praticamente, apenas parte de seu repertório chorão, comportando-se como um legítimo regional. Os títulos escolhidos não deixam dúvidas: lá estão o “Choro Negro”, mas também a emotiva “Valsa Chorando” e o lindíssimo “Romanceando” (que faz sobressair a flauta de Braga).

No encarte, consta um release de Elton Medeiros que vale a pena ser transcrito na íntegra:

Ao ouvirmos o conjunto Galo Preto tocando músicas de Paulinho da Viola, começamos a entrar num mundo de artistas que, resistindo às ameaças de uma possível aniquilação de nossa cultura musical, diante do crescente processo de universalização, fazem ressurgir noutro nível de sofisticação seus trabalhos, representados por suas obras e suas interpretações, contribuindo, da mesma forma, para a evolução musical no universo.
E esta realidade não é tão recente. Paulinho da Viola, já em 1969, nos surpreendia com Sinal Fechado, de grande impacto. Mais tarde, mostrou novos caminhos para o choro através do Sarau para Radamés, bem como nas dez obras para violão apresentadas num LP promocional pelo concertista João Pedro Borges. Além disso, influenciou uma geração – na qual se incluem os músicos do Galo Preto – para a retomada do choro, quando produziu e participou do espetáculo Sarau em 1973.

Também o excelente Galo Preto, ao contrário do que alguns textos e programas de shows assinalam, não é um conjunto de choro – apenas choro, este nosso magnífico choro – pois é um grupo que, ao longo de seus vinte anos de existência, se preocupa em diversificar seu repertório interpretando obras dos mais variados compositores, como Claudionor Cruz, Pixinguinha, Hermeto Pascoal, Ernesto Nazareth, Tom Jobim, Cristovão Bastos e muitos outros – inclusive composições de alguns de seus integrantes – em arranjos próprios que evidenciam um sério avanço na arte de vestir a música.

A merecida homenagem que o Galo Preto presta a Paulinho da Viola representa não somente o reconhecimento da alta qualidade da obra e da importância cultural do homenageado, mas também um congraçamento de artistas que comungam de um mesmo pensamento raro e, por isso, agora nos obrigam a acompanhá-los caminhando juntos.

Quando inseri o Galo Preto na seleção deste 365 Temas Instrumentais Brasileiros, pensei que gostaria de abordar a última faixa de Só Paulinho da Viola, o samba “Na Linha Do Mar (Galo Cantou)”, famosíssimo na voz de Clara Nunes. Porém, na última hora, alterei a escolha, e ficaremos com outro galo, ou melhor, o “Maxixe Do Galo” – que, com seus pouco mais de dois minutos, não apenas é a faixa mais curta do disco, mas também a mais divertida, concedendo espaço para todos os seis músicos desfilarem sua habilidade e sua paixão por um repertório soberbo, e cujo autor será um personagem muito frequente neste projeto.

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