148. Strobo: “Infinita Highway”

Acho uma pena que, em toda a discografia de Humberto Gessinger, haja diversas canções com longas passagens instrumentais, especialmente na fase mais progressiva dos Engenheiros do Hawaii, de 1990 a 1992, mas nenhuma faixa sem letra. No máximo, há “Várias Variáveis”, nada menos que uma brincadeira com dial de um rádio, e que a certa altura encontra uma progressão de acordes que aparece em diversas canções da banda (“Vozes”, “A Verdade A Ver Navios”, “Descendo A Serra” e na versão ao vivo de “Tudo Mundo É Uma Ilha”); e a terceira parte da suíte “Variações Sobre Um Mesmo Tema”, composta pelo guitarrista Augusto Licks, com a incomum fórmula de compasso 13/8. Mas, no final de 2014, o Scream & Yell divulgou o resultado do tributo Espelho retrovisor, do produtor Alexandre Fonseca, celebrando os 30 anos da banda, que seriam comemorados no começo de 2015. Ali, a dupla paraense Strobo propôs uma releitura inusitada para o clássico “Infinita Highway”, uma das mais icônicas faixas dos Engenheiros e, de fato, do próprio BRock. Inusitada porque a letra, grande destaque da composição de Gessinger, simplesmente desapareceu, permanecendo, de fato, só a estrutura harmônica da canção. No lugar do “hard rock leve” (paradoxal, mas precisa, descrição que Pedro Só propôs para a composição), temos uma brincadeira guitarreira, que leva a frieza gessingeriana, do pampa, ao calor de Belém. Os fãs mais xiitas torceram o nariz e eu mesmo estranhei a versão, de início. Mas vale, justamente, pelo estranhamento. Afinal, não era esse o conceito-chave do álbum A revolta dos dândis (1987), de onde saiu “Infinita Highway”?

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