Prólogo 3. Biquini Cavadão: “O Drama II”

O primeiro álbum do Biquini Cavadão, Cidades em torrente (1986), é um achado que precisa, urgentemente, ser redescoberto e reavaliado. No exato meio-termo entre a new-wave e o pós-punk, traz uma profusão de climas e as faixas são, literalmente, imprevisíveis. O disco começa com a sombria “Múmias”, passa pela acelerada “Hotel” e já embarca em sua primeira aventura instrumental: uma pretensiosa vinheta bossa-blues, cuja melodia é delineada pela guitarra, “A Grade Surda”. “Domingo” tem a mesma temática do maior sucesso do álbum, “Tédio”, e é seguida por “O Drama”: um adolescente fazendo “drama” da mais banal das situações. Tanto que a própria sonoridade da canção não se leva a sério – aliás, isso vale para metade do álbum. Outro hit é “No Mundo Da Lua”, também uma canção com cara de hino adolescente (e é porque a abordei no 365 Canções Brasileiras que trago Cidades em torrente para nossa série de prólogos, sem compor a lista final deste 365 Temas Instrumentais Brasileiros). Aliás, os jovens também estão representados em “Reco”, que soa como a irmã nerd de “Núcleo Base” do Ira!, denunciando o absurdo do alistamento militar obrigatório. Fechando o lado-A, uma vinheta engraçada, com jeitão de marchinha de carnaval: “Cadela Pornográfica”. No labo-B, além de “Tédio” e de outro hit, a linda “Timidez”, mais duas vinhetas instrumentais: “Teu Barato”, ska psicodélico conduzindo apenas pelos teclados de Miguel Flores; e “O Drama II”, que preserva a harmonia da primeira parte e se destaca como um momento de erudição e legítima seriedade num álbum que, até então, trazia uma melancolia pouco convincente. Levado ao piano de Miguel Flores e assinado por todos os demais membros da banda (Álvaro Birita, Bruno Gouveia, Carlos Coelho e André Sheik), soa como uma espécie de tango tupiniquim, e é nosso tema de hoje. A triste “Caso” e a alegre “Inseguro Da Vida”, com Celso Blues Boy, completam o repertório. Talvez a mais experimental das estreias do BRock.

Anos mais tarde, o selo Scream & Yell lançaria duas antologias instrumentais, Sem palavras (2017) e Sem palavras II (2019). Nas coletâneas, diversos artistas contemporâneos, e geralmente pouco conhecidos do grande público, revisitam temas diversos (muitos dos quais, originalmente, eram canções). No mais recente desses discos, os paulistanos do Herod escolheram justamente “O Drama II”, apresentando uma interessante recriação – nada reverente à gravação original do Biquíni, mas sem desrespeitá-la:

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