Prólogo 26. Paulinho da Viola: “Choro Negro”

Nervos de aço (1973) é um dos grandes clássicos do samba e, mais que isso, da própria música brasileira. O disco flagra um Paulinho da Viola cronista, melancólico e experimentador. Cronista porque as canções, de forma mais (“Comprimido”) ou menos (“Cidade Submersa”) explicitamente narrativa, retratam o cotidiano suburbano com tino poético, mas sem peder a objetividade. Melancólico porque, desde a capa até as letras (incluindo aquelas que não eram de sua lavra, como a da abertura, “Sentimentos”, de Mijinha, ou “Sonho De Um Carnaval”, de Chico Buarque), impera um completo estado de disforia. E experimentador porque, embora a fase “Sinal Fechado” já houvesse sido superada pelo músico, cantor e compositor carioca, persistiam resquícios de boas invencionices, especialmente em nível harmônico, como se escuta em “Roendo As Unhas”. Ainda, é de se destacar que Nervos de aço – cujo título provém da excelente composição de Lupicínio Rodrigues, da qual Paulinho se apropriou justa e totalmente – reúne um time de excelente músicos, como um jovem Cristovão Bastos, Elton Medeiros e Dininho.

Encerrando o álbum, está o clássico “Choro Negro”, parceria com Fernando Costa, executado apenas por Cristovão ao piano e Paulinho ao cavaco, nosso tema de hoje. Pois, para 2024, teremos pelo menos mais três temas de Paulinho da Viola. Como se sabe, o músico, apesar de mais reconhecido como cantor de samba, tem uma nada desprezível trajetória junto à música instrumental, tendo composto muitos outros choros para além do “Choro Negro”. Seu pai, o violonista César Faria, foi membro fundador do conjunto Época de Ouro, e Jacob do Bandolim foi uma inegável influência no jovem Paulinho, aspirador a chorão.

Enfim, no 365 Temas Instrumentais Brasileiros, reaparecerão muitos dos nomes mencionados neste post. E haverá muito, muito choro!