Prólogo 13. Fagner: “Cidade Nua (Instrumental)”

Fagner mexe comigo de um jeito contraditório. Ao mesmo tempo em que amo canções que ele gravou – como “Me Leve (Cantiga Pra Não Morrer)” –, vendo no cearense um intérprete de enorme talento (especialmente ao musicar poesia alheia), nunca encontrei, em sua discografia, um álbum que inteiramente me seduzisse. Para este 365 Temas Instrumentais Brasileiros, em 2024, eu poderia abordar a versão sem voz para “Cidade Nua”, dele e do parceiro Fausto Nilo; mas a verdade é que O quinze (1989), disco em que consta esse bissexto tema instrumental – incluído na reedição em CD como faixa bônus –, não me soa tão inspirado, valendo apenas trazê-lo nesta série de prólogos. A (auto)produção é pasteurizada, cheia de timbres artificiais, o que já soava anacrônico às portas dos anos 1990, embora o repertório seja OK: destaco o sucesso “Tortura De Amor”, de Waldik Soriano; a intensa interpretação para “Não Me Deixes Mais” (versão de Nilo para “Ne Me Quitte Pas”, de Jacques Brel); o hit de Hyldon “As Dores Do Mundo”, que cai surpreendentemente bem na voz de Fagner; e a hoje impensável participação de Chico Buarque num disco do cantor, com sua “Joana Francesa”. Quanto à própria “Cidade Nua”, penso que a obra reúne boa qualidades melódicas, líricas e rítmicas (com seu pulso que junta num mesmo caldeirão Jamaica, Bahia e latinidade), que são, entretanto, diluídas pela breguice – embora valha a escuta:

Bem mais tarde, a composição apareceria desnudada num arranjo acústico e minimalista, integrando a homenagem a Lincoln Olivetti, O mago do pop (2020). Agora, a interpretação de Fagner finalmente se sobressai e a canção alcança seu registro definitivo:

Talvez falemos mais de Olivetti em 2024, mas de Fagner, acredito que não.

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