Prólogo 14. Zé Ramalho: “Admirável Gado Novo (Instrumental)”

Em seu segundo LP, Zé Ramalho cristalizou o estilo que o tornaria (re)conhecido por todo o Brasil: letras repletas de imagens surreais, místicas ou mitológicas, mas, paradoxalmente, tratando da vida sofrida do povo, sobre uma instrumentação que revisita gêneros e ritmos típicos do nordeste com uma linguagem rock, fazendo o cantautor soar, frequentemente, como uma espécie de “Bob Dylan cabra da peste”. Com essa fórmula, A peleja do diabo com o dono do céu (1979) se tornou um clássico imediato e até parece uma coletânea, tamanha a quantidade de hits espalhados pelos dois lados da bolacha. O disco abre com a faixa-título em altíssima temperatura, prolongando a temática social da letra para as duas faixas seguintes, “Admirável Gado Novo” e “Falas Do Povo” (que cita “Caminhando”, de Geraldo Vandré, a qual seria regravada na íntegra por Zé, passando a constar em seus shows até hoje). A seguir, o primeiro capítulo da saga “Beira-Mar” – concluída apenas em 2022, com “Beira-Mar, A Ressurreição” – e outro sucesso, “Garoto De Aluguel”, com seu arranjo sinfônico desconcertante fechando o lado-A. O lado seguinte inicia com “Pelo Vinho E Pelo Pão”, com participação vocal de Amelinha, seguindo-se o quase-hit “Mote Das Amplidões” (síntese entre as musicalidades paraibana e céltica) e “Jardim Das Acácias”, rock de tessitura progressiva e lisérgica, reforçado pela guitarra de Pepeu Gomes. Fechando o disco, a vinheta instrumental “Agônico” – sucessora espiritual de “Bicho De Sete Cabeças”, choro introduzido no LP de estreia de Zé – e o sacolejante “Frevo Mulher”. Nosso tema de hoje não é “Agônico”, e sim a versão instrumental de “Admirável Gado Novo”, que aparece como faixa bônus na reedição em CD de A peleja. A composição é tão perfeita, e o arranjo (de Paulo Machado) tão magnífico, que o tema acaba se sustentando maravilhosamente mesmo sem os vocais. Ainda, a versão instrumental destaca a participação de Nivaldo Ornelas no saxofone, ora fazendo dobras com os vocais, ora viajando pela inventiva harmonia proposta por Zé.

Em 2024, haverá mais Zé Ramalho por aqui, já que o paraibano espalhou, por sua discografia, vários temas instrumentais. E os mencionados Pepeu e Ornelas também estarão presentes, claro.

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