Prologo 27. Sepultura: “Kaiowas”

Chaos A.D. (1993), o quinto lançamento do Sepultura, com o perdão do clichê, é um álbum de transição. A banda havia praticamente sedimentado um renome internacional em Arise (1991), disco que ainda repisava os lugares-comuns-malvadões do metal (e, tom jocoso à parte, é meu álbum favorito dos mineiros), mas agora ensaiava a rota ao clássico e muitíssimo bem-acabado Roots (1995), o qual aproximava-se do nascente nu-metal e investia numa sonoridade muito diferente do thrash que marcou o início do conjunto. Assim, o disco de 1993 traz uma guinada lírica e musical, ainda não levada à suas últimas consequências, mas nítida: as canções já não tratavam de temas mórbidos, agora trazendo um léxico todo comprometido com questões sociais (como explicitam alguns títulos, do hit “Refuse/Resist”, passando por “Territory”, “Propaganda” e “Nomad”, até “Manifest”), e a arquitetura sonora investia menos em solos e mais em riffs hipnóticos, com a cozinha se esmerando em criar grooves pesadões – destacando as impiedosas porradas de Igor Cavalera, então, processando a influência percussiva do Olodum, outra novidade em relação ao Sepultura de outrora. De quebra, compareciam duas composições alheias, mas bastante integradas ao conjunto como um todo: “Biotech Is Godzilla”, do dead kennedy Jello Biafra; e “The Hunt”, talvez uma das mais radiofônicas do álbum, cover da banda inglesa New Model Army. E, no meio de tudo isso, um tema instrumental (nosso prólogo de hoje), outra antecipação do que os fãs iriam conferir em Roots: “Kaiowas”, faixa de tessitura acústica, composta pelos quatro (os irmãos Igor e Max, Andreas Kisser e Paulo Jr.), criando um clima tribal, rural, modal – e que não apenas chamava a atenção para a situação política do indígena brasileiro, jamais equacionada, mas também para a presença africana na história e na cultura do Brasil, com uma passagem à capoeira.

A versão estendida e remasterizada de Chaos A.D., nas plataformas digitais, traz ainda uma releitura ao vivo de “Kaiowas”, pelo que consta, gravada junto com uma tribo do povo xavante:

O Sepultura sempre teve, como tradição, inserir temas instrumentais aqui e ali, em sua extensa discografia. Além disso, seus relançamentos também costumam trazer versões voiceless para várias canções. Juntei essas faixas nesta lista aqui, e você pode esperar uma delas em 2024 no 365 Temas Instrumentais Brasileiros.

7 replies to “Prologo 27. Sepultura: “Kaiowas”

  1. Eu amo o Arise (e tenho em vinil) mas o Chaos A.D. é definitivamente meu preferido, inclusive por conta dessa “vibe” experimental. Poderia escutar Kaiowas por horas a fio…

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      1. Nós compramos aqui! Os preços de vinil aqui em SP são bem melhores. Queríamos comprar o Chaos A.D. tb, mas vamo ter que esperar a “onda Sepultura” passar, depois da turnê de despedida, pq está um absurdo de caro.
        Bora marcar a noite de vinis aqui em casa depois das férias!

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