41. Tantra: “1968”

O Tantra surgiu do encontro entre Fred Nascimento (voz e guitarra) e Gian Fabra (baixo), músicos de apoio da Legião Urbana, com o baterista Gutje Woortman, que tocara na Plebe Rude durante os anos 1980 (e no breve retorno da banda à sua formação clássica, na virada para o século XXI). Mais tarde, a formação da banda se consolidaria como um trio (sem um baterista fixo), com Fred, Gian e o tecladista e produtor musical Carlos Trilha – também integrante da banda de apoio da Legião, e parceiro de Renato Russo em suas aventuras solo. Em seu primeiro álbum, Eles não eram nada (1996), a banda apresentou um pop/rock consistente, com destaque para a faixa “Corvos Sobre O Campo” e para a releitura roqueira de “Tropicália”, de Caetano.

Dados os vários compromissos dos integrantes com outros projetos (Fred, por exemplo, passaria a excursionar com o Capital Inicial, a partir de 2001, justo no auge do sucesso radiofônico da banda), o disco seguinte do Tantra seria lançado apenas em 2007. A febre dos sonhos não é tão conhecido quanto seu antecessor, mas decanta a sonoridade do conjunto e traz um apanhado de boas canções, com qualidade superior à média do que se ouviu nas rádios à época de seu lançamento.

O conhecedor do rock encontrará, nas 14 faixas, ecos não apenas da Legião Urbana (na levada meio folk de “Guardas No Hotel”, por exemplo), mas também de duas das principais ondas que varreram os anos noventistas: deste lado do Atlântico, o grunge do Nirvana e do Pearl Jam; e do outro lado do oceano, a britpop do Oasis e do Radiohead (em seus primórdios). Por vezes, as referências são outras, mas não totalmente estranhas a esses universos; por exemplo, “Assim Parece Ser” é puro R.E.M., a melodia da bela “O Zepellin” lembra os Cranberries em seus momentos fofos-melancólicos – com destaque para a participação de Fernanda Takai cantando os versos finais –, havendo também ecos de Beatles, Hendrix, Bowie… e até do rock progressivo.

O tema de hoje, “1968” (composto pelo trio), com sua sonoridade plácida, assentada no piano rhodes de Trilha, é um exemplo dessa reminiscência, e floydiana que é, destoa quase totalmente das demais faixas, embora, por isso mesmo, não soe tão despropositada, servindo como um descanso sonoro frente à preponderância das guitarras de Fred. Outro tema instrumental, uma vinheta minimalista bem no meio do álbum, é “Piano Painting”, também conduzida por Trilha.

Enfim, com mais ou menos personalidade, as canções de A febre dos sonhos merecem mais do que uma chance.

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