53. Roberto Corrêa: “Mazurca Do Viajor”

Roberto Corrêa poderia ser um físico, mas as circunstâncias o conduziram da ciência à arte, e o mineiro de Campina Verde acabou se tornando um dos grandes nomes da viola caipira. Em sua militância pela aceitação da viola enquanto instrumento solo, o músico e professor acabou organizando vários álbuns interessantes, dos quais destaco, hoje, Extremosa-rosa, de 2002. O disco tem 15 faixas, das quais aproximadamente metade são temas instrumentais autorais. A abertura, “Extremosa/Rosa” é uma delas, trazendo um medley que possibilita ao ouvinte a identificação das duas peças que a compõem, embora elas estejam unidas organicamente – a “Extremosa” sendo a mais melodiosa, abrindo e fechando a faixa, e a “Rosa”, mais ponteada e quase barroca. Falando em ponteado, eles comparecem em peso em “Bicho-De-Pé”, que, para mim, às vezes soa como um blues em certos momentos, talvez por alguma blue note mencionada nas belas frases utilizadas nas seções desse tema bonito e complexo. A seguinte, “Queluzindo”, é menos intrincada, mas também traz fraseados interessantes em sua segunda parte, que, num disco de rock, poderiam muito bem constituir um bom solo de guitarra. Nosso tema de hoje é a próxima instrumental de Extremosa-rosa, a “Mazurca do Viajor”. Ora, a mazurca é uma dança tradicional polonesa; quem gosta de Choppin já escutou alguma de suas peças, para piano solo, assim nomeadas. Roberto Corrêa, apresenta, então, uma mazurka caipira, cujos compassos ternários nos convidam a imaginá-la num dançante bailado interiorano, meio valsa, meio ciranda. O disco ainda traz “Ingrisia Na Folia”, uma toada das mais bonitas; “Inezita”, uma homenagem à cantora e apresentadora que então animava o Brasil com o programa Viola, minha viola; e o encerramento, com a “Futrica Infinita”, mais um tema complexo e de difícil classificação, por seus movimentos harmônicos surpreendentes e pela conjugação de diferentes técnicas. Para além dos números instrumentais, vale a pena ouvir atentamente as canções, de que destaco o tema de domínio público “Moreninha Se Eu Te Pedisse” (que já esteve no repertório de Renato Teixeira), a lamentosa “Viola Quebrada” (de ninguém menos que Mário de Andrade), além de dois clássicos famosos na voz de Tião Carreiro, “Chora Viola” e “Boi Soberano” (esta, cantada num caipirês corretíssimo, como tem que ser).

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