65. Marsicano: “Via Láctea”

Dez anos antes de sair de cena inesperadamente, Alberto Marsicano nos legou Electric sitar (2003). O disco, produzido pelo DJ Edson X e embalado por seus beats, traz nove faixas em que o som ressoante do sitar indiano – instrumento que, no Brasil, tinha Marsicano como um de seus introdutores – acompanha uma atmosfera eletrônica, no melhor estilo chill out, de forma surpreendentemente orgânica. Apesar de haver ambiências parecidas em algumas das faixas (“Ganges”, “Ibiza”, “Dança Céltica”), Marsicano se esforça para inserir outros elementos musicais nos temas que ecoam as diversas culturas aludidas nos títulos (não sendo exagero considerar Electric sitar como um álbum de world music). Assim, “Satori”, iniciada com a leitura de um haicai, é acompanhada de instrumentos japoneses, a shakuhachi de Danilo Tomic e o koto de Olavo Ito; “Bombay Saphire” traz a cantora Ratnabali Adhikari cantando um poema seu, em hindi, no estilo thumri; “Mantra Para Baden” não é exatamente bossa-novista, preferindo homenagear o lado afro do célebre violonista brasileiro, com a presença do berimbau de Caito Marcondes (que também toca tabla e percussão em praticamente todo o disco); e o violão de Ulisses Rocha, soando ao mesmo tempo flamenco e mouro, é destacado em “Alhambra”, que celebra o palácio de mesmo nome construído pelo califa Ibn Al Ahmar na região da Andaluzia. O disco homenageia outro monumento arquitetônico em “Chartres”, que recebe a contribuição dos sintetizadores de Corciolli – e talvez seja a faixa mais conhecida do álbum, por figurar num dos volumes da série Solaris, que a Som Livre dedicou à new age em meados dos anos 2000. Encerrando o álbum, está nosso tema de hoje, “Via Láctea”, que se diferencia das faixas anteriores por investir num outro gênero eletrônico, o drum n’ bass. No encarte do álbum, há um pequeno faixa-a-faixa e é assim que Marsicano descreve essa sua composição em parceria com Edson X: “A reverberação cósmica do sitar ressoando profundos ecos siderais”.

2 replies to “65. Marsicano: “Via Láctea”

  1. Saaaaaaaaaaalve Rafa

    Quando você disse que tinha Marsicano ”drum n bass” aqui no blog, já sabia que seria alguma pérola do ‘Electric Sitar’, esse disco é muito bom, já ouvi várias vezes.

    Curtir

    1. Que legal que você conhece o disco, Augusto! Se eu não me engano, o meu eu comprei diretamente do Marsicano, acho que ele me vendeu por 10 reais (ou no máximo 20) em 2007. Ouvi muito também.
      Grato pela visita e pelo comentário.

      Curtir

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora
close-alt close collapse comment ellipsis expand gallery heart lock menu next pinned previous reply search share star