75. Renato Braz e Maogani: “Milonga Da Espera”

Renato Braz, embora seja considerado por alguns o maior cantor do Brasil na atualidade (e não posso sustentar que estejam errados), nunca deixou de demonstrar seu apreço pela música popular instrumental. Sempre que encontra oportunidades, o músico paulista faz questão de inserir alguns temas assim em seus álbuns – como ocorre, por exemplo, em seu encontro com Zé Renato, Papo de passarim (2010), que traz a belíssima “Canção Cubana”; ou então no fenomenal Outro quilombo (2002), que apresenta uma maravilhosa versão para “A Internacional”, com a letra apenas vocalizada. Pois em Canela (2014), outro projeto que tem tudo para agradar aos companheiros vermelhos (desde a capa), o cantor se une ao Quarteto Maogani e seus mil violões numa formidável homenagem à América Latina, sendo que, das 13 faixas, 4 são instrumentais. É claro que são as canções a substância do álbum: delas, destaco a abertura, com a tradicional venezuelana “Pajarillo Verde”; a faixa seguinte, “La Jardinera”, da chilena Violeta Parra; e o “Calandú”, parceria de Paulo César Pinheiro e Breno Ruiz (que a canta), representando o Brasil. Mas as instrumentais conseguem se impor heroicamente, graças à maestria dos músicos do Maogani. Como interlúdios ou pausas reflexivas, demonstram eloquentemente a verdade dos versos de “O Som Da Madeira”, outra faixa brasileira (de Maurício Marques e Adão Quevedo), que narra a transmutação da madeira violentamente extraída da natureza (“O ébano, o mogno, o pinho”) no som quente dos instrumentos musicais (“Para encantar o ouvido”). Três das faixas sem letra são internacionais (“Julia Florida”, “Canela” e “Bambuco Em Si Menor”), restando a “Milonga Da Espera” como uma opção para o tema de hoje. Mais curta das quatro, com pouco mais de dois minutos, a composição de Maurício Marques é executada apenas por ele mesmo (tocando o incomum violão de 8 cordas – aliás, o músico, apelidado como Machado, foi integrante do Maogani até 2012, e reaparece aqui numa participação especial) e por Marcos Alves. Solene como toda obra do gênero, a “Milonga Da Espera” soa muito mais genericamente platina do que particularmente rio-grandense, mas tem tudo para agradar aos sulistas, e, por acaso ao não, a faixa antecede a canção “Vuelvo Al Sur”, que encerra o álbum lindamente.

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