80. Zé da Velha & Silvério Pontes: “Diplomata”

Só Pixinguinha (2006) é uma imperdível homenagem ao mestre, assinada por dois músicos fantásticos: José Alberto Rodrigues Matos, o popular Zé da Velha, e Silvério Pontes. No trombone e no trompete, respectivamente, acompanhados de um regional cascudo e reforçado por convidados da pesada, o duo relê 12 composições do maestro do choro. Há poucas obviedades, as maiores sendo “Carinhoso” (numa versão elegante e solene, com o apoio de Yamandu Costa, de Carlinhos 7 Cordas e do percussionista Rodrigo Jesus) e “Ingênuo” (relida num andamento cadenciado, tendo como convidado Marcos Nimrichter no acordeon). Os arranjos, assinados em geral por Henrique Cazes ou por Jayme Vignoli, são primorosos; preste atenção, por exemplo, às polifonias de “Chorei”, que soma aos sopros a clarineta de Paulo Sérgio Santos; ou então à beleza de “Desprezado”, com Silvério tocando também o flugelhorn, apoiado no piano sempre preciso de Cristovão Bastos (nesse caso, o próprio arranjador). A propósito da sequência dos temas, a dupla soube manter a temperatura sempre elevada, inserindo, pontualmente, algumas composições mais delicadas (como a valseante “Sensível”, que tem a adesão de outros dois monstros: Joel Nascimento no bandolim e Luiz Aves no baixo), mas insistindo nos choros “para frente”, como “Ainda Me Recordo” (com flauta de Alexandre Maionese) e “Trombone Atrevido” (novamente com Maionese, na flauta e no flautim, além de Humberto Araújo no sax tenor, e dá-lhe mais polifonia). O encerramento se faz com “Sedutor”, trazendo vários dos convidados das faixas anteriores, como que num balanço do álbum, e surpreendendo com a quebra de sua dolência na conversão para uma ciranda. Entre tantos arranjos tão espantosamente sublimes, fica difícil escolher o tema de hoje, mas arrisco-me com “Diplomata”, numa versão que se destaca pela dinâmica, ao som do sax de Humberto Araújo e da curiosa presença do derbak (instrumento percussivo árabe) pelas mãos de Beto Cazes.

2 replies to “80. Zé da Velha & Silvério Pontes: “Diplomata”

  1. Boa. Tem a levada do inicio do choro, a transição do maxixe para o samba. Dá até pra escutar aquela batida de prato do João da Baiana. Aliás, já assistiu o documentário no yt Saravah (Pierre Barouh)? Abc!

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    1. Assisti não! Valeu pela dica.

      Quanto à descrição, perfeita! Um dia ainda vou aprender a fazer o som do prato do João da Baiana!

      Abraço, grato pelo comentário e não se esqueça: até meados de abril, é choro a cada 3 dias.

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