95. Gabriel Grossi & Félix Júnior: “Domingo Pascoal”

O violonista Félix Júnior e o gaitista Gabriel Grossi, hoje parceiros já há mais de duas décadas, apenas em 2016 assinaram em conjunto um álbum. Nascente, cujo subtítulo é A música de Hermeto Pascoal e Guinga, coloca os músicos em contato íntimo com a produção de dois dos mais importantes compositores e instrumentistas brasileiros contemporâneos. São dez faixas, quatro de Guinga, quatro de Hermeto e duas autorais, colaborações de Félix e Gabriel. As de Guinga são “Senhoria”, parceria sua com Paulo César Pinheiro, e relativamente conhecida, por ter sido tema da novela Sinha-moça (1986) (quando atendia por “Sinhaninha” e era cantada por Ronnie Von); “Di Menor”, samba composto com Celso Viáfora; “Exasperada”, melodioso fruto da prolífica produção conjunta com Aldir Blanc; e a faixa de encerramento, o conhecido “Baião De Lacan”, que finaliza o álbum em alta temperatura. De Hermeto, por sua vez, foram escolhidas a complexa “Suíte Norte, Sul, Leste, Oeste”; “Balaio”, também conhecida como “Macia”; “O Farol Que Nos Guia”, tipicamente hermetiana, com vários climas e andamentos; e “Fátima”, virtuosística e chorona (e os rapazes incluíram uma citação incidental, no fraseado inicial, a “Olê, Olá” de Chico Buarque). Já as duas peças autorais procuram também referenciar os homenageados: “Selva De Pedra”, com a adesão de Duda Maia no bandolim, é totalmente Guinga, enquanto “Domingo Pascoal” já deixa claro, desde o título, a quem é endereçada. Quanto às execuções, a dupla está entrosadíssima, permitindo-se alguns momentos de destaque individual – por exemplo, se Gabriel dá show em “Balaio”, Félix rouba a cena em “Di Menor”, faixa seguinte. A propósito da sequência das composições, é de destacar também a esperta estratégia de intercalar temas mais e menos pulsantes, quase como sístoles e diástoles (ou cheias e secas, só para aludir ao título e à expressiva capa do álbum). Para citar um exemplo, a crepitante “Fátima” antecede a dolente “Exasperada”, o que imprime ao álbum uma dinâmica interessante. Apesar do peso dos dois compositores a quem se dirige o bem-vindo tributo, nosso tema de hoje será a autoral “Domingo Pascoal”, que é só placidez em seu prólogo, depois enxertando um baião que, lá pelas tantas, nos impressiona com a notável performance vocal-instrumental de Gabriel – e para saber do que estou falando, melhor escutar a faixa.

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