O pai de Beto Guedes, Godofredo Guedes, foi um compositor e chorão de mão cheia. Embora não tenha deixado registros fonográficos, algumas de suas composições vazaram para a discografia do filho, por exemplo, o choro instrumental “Belo Horizonte”. Por sua vez, o filho de Beto, Gabriel Guedes (aquele mesmo cujo nascimento fora saudado na bela canção “Gabriel”), resolveu fazer justiça ao avô, dedicando-lhe um álbum inteiro. Choros de Godofredo (2003) traz dez faixas, tendo como atrativo não só o resgate histórico, mas o próprio mérito artístico das composições. Com Gabriel ao bandolim, o disco procura valorizar o senso melódico de Godofredo, o que é feito a partir do recurso a variadíssimos instrumentos de sopro. Assim, a abertura, “Tocando No Parque”, traz uma sinfonia de flautas e sax pelas mãos de Dado Prates, mais o trombone de Manoel Floriano; flauteados são também “Caindo Do Céu” (que diverte com seus fraseados com cromatismos descendentes, daí o apropriadíssimo título da obra) e o saudoso “Chorando Com Estilo”; “Tristeza De Baiano” traz o som característico do oboé, tocado por Carlos Ed, que também adorna “O Último Choro” com o inusitado (e lindo) timbre do corne inglês; e nosso tema de hoje, “Chorando Em Sol Menor”, tem sua sinuosa melodia delineada pela clarineta de Walter Souza, que sopra o mesmo instrumento na quase camerística “Eu E Minha Clarineta” – com Washington Luiz no fagote e ninguém menos que Yamandu Costa solando seu 7 cordas. Falando em participações especiais, elas são bastante afetivas: Wagner Tiso inclui um piano singelo, mas não menos melodioso, em “Tardes Em Fortaleza”; o pai Beto e outro membro indispensável do Clube da Esquina, Tavinho Moura, cantam o choro-canção “Cais Da Esperança”; e o disco é encerrado com a indecifrável “Tropeiro”, transcendendo o universo do choro (com Fernando Sodré na viola e Gabriel tocando, além do bandolim e dos violões, o sitar indiano!) e alcançando as esferas mais sublimes com a voz divina de Bituca. Os Guedes, que família venturosa!
Que legal essa história! Muito bom, gostei do “O último choro”.
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Boa, Krusty! Acho que legal que você gosta de ir além do tema do dia e escuta outras faixas que comento. E esse “O Último Choro” é realmente muito bonito e original.
Bem, fique atento: a partir de amanhã, quando postarei um tema sulista, vem uma sequência que acho que agradará, pelo menos até o post 104! Acompanhe!
Abração e bom domingo.
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