98. Alex: “Quero-Mana (Playback)”

Quem adora música gaúcha acaba, cedo ou tarde, se deparando com Alex Hohenberger. O gaitista ficou conhecido, primeiro, por compor o quarteto vocal Caverá em fins dos anos 1970 (e cujo canto em uníssono, curiosamente, lembra outro conjunto vocal da mesma época, mas de uma região completamente diferente: os Tincoãs, da Bahia). Em carreira solo, o músico aprofundou seus mergulhos na música nativista, lançando o álbum intitulado, justamente, Nativismo puro (1995) – com clássicos como “Tertúlia”, “Esquilador” e “Guri”, entre outros. Há também seu lado satírico, como se ouve em Barranqueadas (1989), com a recitação de poemas eróticos (que Alex recolheu com Paulo Martins) sobre bases de gaita, em faixas intituladas “Tema Bagual nº 1”, “Tema Bagual nº2”, etc. Entre esses dois lançamentos, um disco também rende tributo à cultura sulista, mas sem apelar para os temas baguais: Danças gaúchas (1992). São 31 faixas (!), 16 cantadas e 15 aparecendo como suas versões instrumentais (exceto “Rilo”, ela própria, instrumental). Praticamente todas são vinhetas e o LP parece ter sido concebido com finalidade pedagógica ou escolar, recolhendo temas de caráter praticamente folclórico, como “Balaio”, aliás, cantada no Brasil todo. Aqui no Sudeste, as crianças dançam “Pezinho” nas festas juninas, e eis outra faixa de Danças gaúchas que ultrapassou fronteiras culturais e geográficas, mostrando que o tradicionalismo gaúcho de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa (autores-recolhedores-adaptadores da maioria das obras relidas nesse disco) foi aceito com muita naturalidade entre nós caipiras mais ao norte. Bem, se as versões “playback” podem ser úteis para a gurizada cantar nos ensaios das danças, também possibilitam uma análise mais pormenorizada das raízes e da genealogia do nativismo. Por exemplo, é interessante observar como muitos desses temas são, simplesmente, xotes (como o “Xote Das Duas Damas” e a “Chimarrita”), compartilhando com os nordestinos o gosto pelo pela polca escocesa. Também são abundantes as valsas, como “Pau De Fita”, com uma modulação harmônica muito interessante, recurso comum a várias peças da música gaúcha. Considerando esse aspecto, tomo como tema de hoje “Quero-Mana”, que reveza passagens mais bailadas e momentos menos pulsantes. As partes do bailado remetem à Europa Medieval (influenciadas por alguma antiga dança francesa?). Já os trechos mais quietos são sutilmente flamencos – o que faz sentido, dada a marcante presença de espanhóis no território gaúcho. Enfim, apenas conjecturas.

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