112. Fabio Tagliaferri: “Fogoso”

Fundamental nas salas de concerto, a viola de arco abrange as frequências intermediárias entre aquelas do violino e do violoncelo, mas parece não ter o mesmo apelo popular que esses timbres. Pois Fábio Tagliaferri, em seu primeiro álbum, justamente intitulado Viola (1998), topou o desafio de expor a beleza do instrumento num repertório nada erudito, mas não menos emocionante. Como o próprio músico, o disco é eclético, inclusive quanto às formações, tão numerosas quanto são as faixas. Em meio a alguns temas estrangeiros – dois do pianista porto-riquenho Edsel Gomez, “La Violatera” e “Embraceable Mônica” (e o músico participa de ambas), mais o tradicional japonês “Rokudan No Shirabe”, com a viola deslizando entre os sons do koto e da shakuhachi –, Fabio apresenta duas composições próprias, “Sabrina” e “Pela Manhã” (parceria com David Calderoni, trazendo o piano de Cristiane Neves e a voz da portuguesa Eugénia Melo e Castro), e dedica o resto do repertório a grandes nomes da canção popular e, principalmente, da música instrumental em suas muitas vertentes. Na seara cancionista, faz de “Último Pau De Arara” uma peça linda e apropriadamente estarrecedora, e ainda convida Paulinho da Viola para uma participação – se bem que o portelense comparece não para cantar, e sim para fazer o violão de um de seus tantos choros instrumentais, “Inesquecível”, um presente especialmente cunhado para Viola. Outra faixa chorona é a abertura, “Choreto”, de Mané Silveira – que faz os saxofones e flautas do álbum e assina alguns dos arranjos. O bandolinista Ronen Altman é mais um compositor lembrado, participando de sua valseante “Nanai”, ornada com o acordeon de Reinaldo Salvitti. Tem sanfona valsando também em “Francesca”, de Toninho Ferragutti, com Mário Manga no violão. Por fim, temos que falar de “Terra Estrangeira”, de José Miguel Wisnik, austero tema do filme de mesmo nome (de Walter Salles e Daniela Thomas), contando com o violão de Camilo Carrara, o 7 cordas de Swami Júnior e as tablas do percussionista Guello; e nossa faixa do dia, “Fogoso”, de Paulo Freire. Embora tenha nome de choro, trata-se da composição mais experimental e desconcertante de Viola. Um pagode ousado em termos melódicos e harmônicos, vale não só pelo curioso dueto entre violeiro (Paulo) e violista (Fabio), mas também pela variadíssima percussão sustentada por Adriano Busko.

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