117. Maestro Tiquinho: “Minha Flor”

Na estrada desde os anos 1980, ele já passou por várias bandas (Professor Antena, Funk Como le Gusta, Clube do Balanço) e acompanhou grandes nomes (sendo, por algum tempo, o braço direito de Jorge Ben), porém, foi gravar seu primeiro disco solo apenas em 2020. Falo do trombonista Maestro Tiquinho, que, em plena pandemia, concebeu Trombonesia. O criativo título alude ao fato de que, embora as oito faixas autorais sejam instrumentais, algumas vêm acompanhadas de versos, mas que são recitados, e não cantados. A ideia não é nova, remetendo à chamada dub poetry, que marcou a Jamaica setentista. E, de fato, Trombonesia mergulha fundo no rocksteady e no ska. Tiquinho está acompanhado de pouquíssimos instrumentistas, convocados por fazerem parte do universo afetivo do músico, que tocam em todas as faixas: Alexandre “Che” Caparroz (bateria), Edu SattaJah (baixo elétrico e acústico) e Rogério Rochlitz (órgão e pianos acústico e elétrico) – e acredite se quiser, música jamaicana sem guitarra funciona! Gravado praticamente ao vivo e abrindo algum espaço para as improvisações (que conferem ao álbum um “tiquinho” de jazz, com o perdão do trocadilho), o disco tem uma sonoridade muito homogênea, com os timbres tinindo; mérito do produtor Eduardo BiD. Faltou tratar dos convidados: Celso Borges contribui com dois poemas, recitando um em “Se Fue” e permitindo que outro fosse adaptado para a leitura de André Abujamra na “Abertura”; Zeca Baleiro, que já se beneficiou do som de Tiquinho, apresenta seus versos em “Movimiento”; “Tempo Tempo” tem a voz de Fernanda Takai, apropriadamente, interpretando haicais do próprio trombonista; e falando em Japão, o álbum encerra com “Oriente-Se”, trazendo a mordaz declamação de Chico César, outro velho conhecido de Tiquinho (e esse baião ska, logo a faixa mais brasileira do disco, também tem a participação da percussionista Simone Sou). As demais faixas, “De Boa”, “Por Um Final Melhor” e “Minha Flor”, são totalmente instrumentais. Fiquemos com essa última como nosso tema de hoje; rocksteady dos bons, parece atingir o equilíbrio perfeito entre a melodia e o balanço.

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