137. Marcia Taborda: “Tango Triste”

A introdução de Paulinho da Viola no mundo da música aconteceu mais por conta do choro do que do samba. Seu pai, o violonista César Faria, recebia em casa figuras como Pixinguinha e Jacob do Bandolim – aliás, quando este fundou seu Época de Ouro, lá estava Faria ao violão. Inclusive, há Memórias – Chorando (1976), o álbum chorão de Paulinho, trazendo composições próprias, ao lado de clássicos alheios (e, oportunamente, falaremos mais sobre o disco).

Mas faltava o devido registro do conjunto de peças choronas autorais de Paulinho, compostas ao violão. Essa tarefa foi resolvida por Márcia Taborda, violonista e acadêmica que, em Choros de Paulinho da Viola (2005), coligiu essas 13 peças, revisando-as (e acompanhando a finalização de algumas) junto do próprio compositor. A musicista propõe uma abordagem minimalista, cercando-se de poucos parceiros: Maurício Carrilho, no 7 cordas; Luciana Rabello (que também produz o disco), no cavaquinho; Luciana Requião, no violão baixo; e Kiko Horta, em apenas duas faixas, no acordeon. Aliás, em quatro temas, Marcia está sozinha ao violão.

Ainda, a artista redigiu um ensaio que faz um pequeno balanço da obra instrumental de Paulinho, ao mesmo tempo, apresentando um detalhado faixa-a-faixa do álbum. Abaixo, uma separata do ensaio, destacando a classificação e o caráter geral dos temas presentes em Choros de Paulinho da Viola:

Musicalmente as peças podem ser agrupadas em três principais eixos do repertório do choro: as valsas – “Valsa Da Vida”, “Valsa Chorando” e “Lila”; os choros rápidos – “Rosinha, Essa Menina”, “Relembrando Pernambuco”, “Abraçando Chico Soares”, “Evocativo” e “Escapulindo”; e os dolentes – “Tango Triste”, “Itanhangá”, “Romanceando”, “Salvador” e “Floreando”.

“Pixinguinha dizia que choro é coisa sacudida e gostosa, lembra. Mas sempre achei os meus meio tristes. Eu não os escondia por isso, mas porque do ponto de vista técnico, há mais exigências a fazer ao choro do que ao samba. O choro é mais elaborado, mais difícil”. Seguindo a tradição do Pixinguinha de “Carinhoso”, [Paulinho] escreveu todas as peças em duas partes.

Como tema de hoje, escolho “Tango Triste”, executada apenas por Marcia e Luciana Requião. No faixa-a-faixa, a violonista assim se pronuncia sobre a peça:

“Tango Triste”, escrita nos anos 70, é considerada por Paulinho uma de suas peças mais melancólicas; segundo o compositor, ritmicamente a obra define algo que parece muito antigo.

Vale a pena escutar, também, a versão original do tema, registrada em 1985 no disco Brasil instrumental (um brinde de fim de ano distribuído pela empresa CAEMI) – título assinado pelo violonista João Pedro Borges, relendo dez choros de Paulinho e incluindo o próprio compositor, e seu pai César Faria, nas execuções:

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