Prólogo 8. Baden│Vinícius: “Lamento De Exu”

No 365 Canções Brasileiras, saquei o “Canto De Iemanjá” como escolha do clássico absoluto Os afro-sambas (1966), obra-prima de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Por conta disso, não tematizarei o álbum no presente projeto, mas vale a pena trazer sua única faixa instrumental, “Lamento De Exu”, nesta série de prólogos. Não farei um comentário geral sobre o disco, já extensamente analisado e celebrado, nem explicarei eu mesmo essa misteriosa composição. Darei a palavra a Isabela Morais, cuja dissertação de mestrado, defendida no programa de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras (FCL-Unesp/Araraquara), intitula-se É, não sou: ensaios sobre os afro-sambas no tempo e no espaço (2013):

O lamento está inserido naquilo que de mais “afro” havia para Baden Powell. Não à toa, há um lamento no álbum. Lamento de negro que nos remete ao banzo, saudade do negro de sua terra. Banzo e lamentos estes que geram o blues no hemisfério norte.

Lamento pode nos sugerir a forma do instrumental, mas, tal como em alguns outros momentos, o termo “canto” nos sugeria não apenas o “canto” de louvor a/para determinada entidade, mas também o próprio canto daquela entidade, como em “Canto de Iemanjá”, o lamento aqui, mais do que o título da forma meramente instrumental, pode nos remeter ao próprio lamento de Exu, Exu se lamentando (p. 193).

“Lamento De Exu” recebeu diversas releituras. Curiosamente, nem todas são instrumentais. É o caso da versão que consta no tributo a Os afro-sambas que Monica Salmaso preparou junto do violonista Paulo Bellinati em 1995, que inclui um canto ao próprio Exu. Isso também acontece na bela versão que o Coral Unifesp registrou num disco com o mesmo caráter, de 2009. O próprio Baden, quando regravou o álbum em 1990, transformou a composição, antes praticamente uma vinheta de encerramento, num tema afro dirigido não a Exu, mas a exus – cujos nomes são lembrados na recitação do músico e compositor. Sua intensidade é tamanha que, talvez, essa seja a versão definitiva para a peça:

Devem ser lembradas, também, as versões de Mário Adnet com Philippe Baden Powell, no incrível Afro samba jazz (2009); e, mais recentemente – e também numa linha jazzista, embora mais minimalista –, a releitura de Alexandre Caldi e Itamar Assiere em Afro + sambas (2019).

Os dois discos acima mencionados constarão na lista final do 365 Temas Instrumentais Brasileiros, que trará também outro tema da discografia de Baden, além de uma faixa de Bellinati (tocando outro craque brasileiro ao violão… qual será, você tem algum palpite?).

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