4. Hurtmold: “Música Política Para Maradona Cantar”

De certa forma antecipando a onda de post-rock que tomaria o underground brasileiro na década inicial deste século, o Hurtmold surgiu em 1998 – e, talvez devido a esse pioneirismo, os rapazes da capital paulista rejeitem o rótulo, preferindo se apresentar como um conjunto de rock ou de música, simplesmente. As sete composições de Mestro (2004) são assim: desenham instrumentais viajandões, experimentais, valendo-se sim da linguagem roqueira, mas também explorando a liberdade de improvisação do jazz, daí a dificuldade (ou impossibilidade) de classificá-las. Então, os músicos – Marcos Gerez (baixo), Maurício Takara (bateira, vibrafone, trompete), Mário Cappi (guitarra), Fernando Cappi (guitarra), Guilherme Granado (teclado, vibrafone, escaleta) e Rogério Martins (percussão e clarinete) – preferem apresentar variações sobre um motivo relativamente simples, introduzido nos segundos iniciais de cada faixa, sem se preocupar com divisões em partes ou atos. Isso possibilita maior identidade a cada obra, do contrário, penso que seria mais difícil discriminar uma faixa da outra, até por conta da produção do disco ser extremamente coerente e homogênea. Mas duas são as exceções: “Chuva Negra”, tecnicamente, uma canção (embora pouco “cantável”); e nosso tema de hoje, “Música Política Para Maradona Cantar”, que possui duas partes bastante discerníveis, a primeira seguindo a orientação geral do álbum, e a segunda soando como um baião psicodelíssimo. Embora as plataformas digitais atribuam as composições todas a Gerez, o próprio baixista já declarou que, em geral, as criações são totalmente coletivas. E, como ocorre com o tema escolhido para hoje, os títulos das faixas são às vezes hilários e/ou geniais – como vemos também em “Miniotário”, “Sova” e “Quase 6 De Misticismo”.