14. Cristovão Bastos e Rogério Caetano: “Acreditei Nos Beijos Dela”

Em 2020, após várias ocasiões de encontros fortuitos em gravações diversas, o experiente pianista Cristovão Bastos e o já consolidado violonista Rogério Caetano se trancaram em estúdio e presentearam os amantes do choro com 11 gravações. As curiosidades que marcam Cristovão Bastos e Rogério Caetano são duas. Primeiro, que os músicos não assinaram conjuntamente nenhuma das faixas, sendo que Rogério contribuiu com quatro e Cristovão com seis (metade delas, com outros parceiros), sobrando ainda “Um Chorinho Em Cochabamba”, de Eduardo Neves (clássico imediato que já se ouve em muita roda de choro por aí). E em segundo lugar, há de se destacar a instrumentação incomum e, até onde se sabe, inédita num álbum de choro: ouve-se apenas o piano do músico carioca e o violão de 7 cordas – de aço! – do brasiliense. Com relação ao conteúdo desse verdadeiro recital, ao lado de choros um pouco mais tradicionais (como a “Polca De Jequitibá”, de Cristovão com o violonista Maurício Carrilho; e o “Choro Saudoso”, também de Cristovão, e que faz jus ao título), aparecem temas que surpreendem por sua sonoridade inusitada, caso do sacolejante “Forró Das Palmas”; uma quase lullaby, a delicadíssima “Milena”; além da divertida polca “Criançada Reunida” – e as três faixas são excelentes contribuições de Rogério ao álbum. Cristovão Bastos e Rogério Caetano é dedicado a Raphael Rabello, homenageado explicitamente em “Obrigado, Rapha!”, mais uma de Rogério, mas outros dois grandes músicos são também exaltados: Waldir Azevedo, com o clássico “Choro Pra Waldir”, de Cristovão e seu compadre Paulinho da Viola; e o próprio compositor da Portela, que aparece na ficha técnica mais uma vez, como parceiro de Cristovão em nosso tema de hoje, “Acreditei Nos Beijos Dela”. Choro lançado em 1987 pelo Época de Ouro, em tudo transborda a musicalidade e o lirismo de Paulinho, do título à encantadora melodia, muitíssimo bem-delineada, tanto nos agudos do piano, quanto nos graves do 7 cordas.