18. Tom Zé: “Toc”

Acho temerário comentar o clássico de Tom Zé Estudando o samba (1976), visto que muito já foi falado sobre o álbum – que, inclusive, figurou há dez anos na coleção “O livro do disco” (editora Cobogó), em obra escrita por Bernardo Oliveira. Nada tenho a acrescentar às análises já apresentadas, por isso, apenas farei algumas observações, sobre três faixas de que gosto muito. A primeira é a abertura, “Mã”: acho que esse primeiro “samba torto” (até porque o álbum quase foi intitulado Entortando o samba) tem tanto cabimento numa tese de doutorado, quanto numa discotecagem de brasilidades em alguma festinha pela noite de São Paulo. Outra faixa que me chama muito a atenção, dessa vez por um motivo lírico, é “Só” – e veja que achado poético é a estrofe “Na vida, quem perde o telhado / Em troca recebe as estrelas / Pra rimar até se afogar / E de soluço em soluço esperar / O sol que sobe na cama / E acende o lençol / Só lhe chamando / Solicitando”. Já falei que Tom Zé é gênio? Por fim, trato da razão pela qual Estudando o samba está aqui, encerrando nossa sequência de capas monocromáticas. É que o disco – produzido por Heraldo do Monte e contando com músicos como ele próprio no cavaquinho e no violão, Branca de Neve e Osvaldinho da Cuíca na percussão, além do violonista Edson José Alves – tem um tema instrumental, “Toc”. Composto apenas pelo próprio Tom Zé, a faixa combina ruídos, metais e batidas isoladas com notas também esparsas nos instrumentos de cordas, que atuam de forma totalmente percussiva, assim como a nota única do violão (que, pelo timbre, me parece ser de Heraldo), emulando um tamborim e conduzindo o pulso do começo ao fim. Assim, nosso tema do dia soa como uma versão ainda mais radical que a proposta estética do “Samba De Uma Nota Só”; não por acaso, “Toc” está alocada, no LP, logo depois de outra composição de Tom (com letra de Vinícius), “A Felicidade”, que aparece numa versão pra lá de vanguardista. Avalizado por um sambista do quilate de Elton Medeiros (que escreveu o release do disco e colaborou com duas composições, “Tô” e “Mãe”), Estudando o samba, prestes a completar meio século, ainda vai fundir muita cuca por aí, de bambas a acadêmicos.

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