20. Caçulinha: “O Barquinho”

Quem cresceu e viveu (n)os anos 1990, conhece bem a figura de Caçulinha, dado que o músico foi, por muitos anos, um fiel escudeiro musical de Fausto Silva em seu programa de domingos. Ocorre que o músico piracicabano tem também uma carreira musical para além de sua presença (por vezes, mera e infelizmente acessória) nos espetáculos televisivos. Da discografia do músico, venho destacar, hoje, o álbum instrumental Na bossa nova (2006). Concebido após uma conversa com João Gilberto, que incentivou Caçulinha a tocar o projeto, o disco foi gravado no estúdio do pianista e produtor Ricardo Leão, que ajudou também na escolha do repertório. São 13 faixas, tendo 6 a assinatura de Tom Jobim, como seria de se esperar – e lá estão números como “Garota De Ipanema”, “Corcovado” e “Samba Do Avião”, ao lado de temas com projeção menor, como “Caminhos Cruzados” (de Tom e Newton Mendonça). De demais compositores, constam “Samba De Verão” (dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), “Amazonas” (de João Donato e Lysias Ênio) e “Velas Içadas” (de Ivan Lins e Vitor Martins). “Tudo É Possível”, samba que encerra o disco, é a única faixa de autoria do próprio Caçulinha. Quanto à instrumentação, Caçula está munido de seu acordeon em todas as faixas, sempre com o reforço de convidados: por exemplo, o próprio Marcos Valle, num dos momentos mais jazzistas do disco, improvisa um solo de piano elétrico em seu “Samba De Verão”; Rildo Hora proporciona um dueto de foles, com sua harmônica, em “Sem Você”; e Bocato reproduz, no trombone, a famosa introdução de “Corcovado” (que acabaria vazando para outra canção célebre, “Carta Ao Tom 74”, de Toquinho e Vinícius). A propósito, gostei muito dessa versão, assim como apreciei o arranjo instrumental para o “Samba Do Avião”, que arrisca um maracatu na introdução. Mas minha versão preferida, e tema de hoje, é mesmo a releitura de “O Barquinho”, clássico de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, que ganhou o Brasil na voz de Nara Leão. A revisão de Caçulinha, para uma obra já tão conhecida e regravada, acabou destoando um pouco das demais versões de Na bossa nova. Isso porque o novo arranjo traz o acompanhamento de uma programação eletrônica, que impulsiona o andamento, sem querer para si o protagonismo. O resultado ficou, surpreendentemente, orgânico. Além disso, o próprio Menescal participa da faixa, tocando violão e solando com a guitarra, o que é outro atrativo.

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