O segundo álbum d’Os Paralamas do Sucesso, O passo do Lui (1984), é um dos pontos altos do rock nacional. O disco é impecável e representa uma enorme evolução diante do álbum de estreia do conjunto carioca (com um pezinho em Brasília), Cinema mudo (1983), que abrigava sucessos do quilate de “Vital E Sua Moto” e a faixa-título.
Ali, já estava definida a sonoridade do trio em seus primeiros anos, donde vinha a inevitável comparação com o som do The Police (e João Barone é, inegavelmente, o Steve Copeland brasileiro), mas a produção flagrava uma banda ainda se encontrando no estúdio, com timbres oitentistas que ofuscavam a qualidade (e o peso) de composições como “Química” (cedida pelo amigo Renato Russo, que também assinava a letra de “O Que Eu Não Disse”, gravada com a participação de Lulu Santos na guitarra) e o tema instrumental “Shopstake”.
O passo do Lui ia além, sedimentando um som cru, com guitarras encorpadas (e menos dependentes de efeitos) e o devido destaque para a sensacional cozinha de Barone e Bi Ribeiro, cujo entrosamento é fundamental para a pulsação do ska, gênero que, então, o trio abraçava com afinco – inclusive, intitulando um dos hits do disco, gravado com o saxofone de George Israel, do Kid Abelha.
Além de “Ska”, O passo do Lui trazia outras composições (quase todas assinadas exclusivamente pelo vocalista e guitarrista Herbert Vianna) cuja presença permanece obrigatória nos shows dos Paralamas: “Óculos” (com sua letra engraçadinha e seu jeitão de “The Police do Caribe”), “Meu Erro” (sucesso supremo do trio e que já convence em seus cinco segundos iniciais, trazendo ainda uma coda instrumental deliciosa, recurso empregado em sucessos vindouros, como “Uns Dias” e “Lanterna Dos Afogados”), “Fui Eu” (ska pouquíssimo convencional e a faixa mais próxima da new wave), “Romance Ideal” (agora, “Police tocando The Smiths”, resultando numa sonoridade meio datada, o que só aumenta o charme do momento mais melancólico do álbum), “Mensagem De Amor” (rock meio surfista, meio punk, com letra e harmonia interessantíssimas) e “Me Liga” (que, com sua delicadeza de bossa-nova pós-punk, contrabalança o peso da faixa anterior), além dos lados-B “Assaltaram A Gramática” (reggae com letra genial de Wally Salomão e música de Lulu Santos, antecipando a virada sonora dos Paralamas em seu álbum seguinte, Selvagem?, de 1986), “Menino E Menina” (outro ska meio caribenho, mas também com um toque de África) e nosso tema de hoje, “O Passo Do Lui”.
Esta, que é a faixa de encerramento do LP, é mais um ska divertidíssimo, de natureza vocal-instrumental, com o toque do saxofone de Leo Gandelman. Curiosidade: “O Passo Do Lui” traz o primeiro registro vocal de Renato Russo (então, apenas iniciando as gravações do disco de estreia da Legião Urbana), que, ao finalzinho da faixa, solta um animado “Vaaaaaaai Luuuuuuui!!!”.
Puxa, esse álbum é sensacional!
CurtirCurtir
Que legal que você gosta! O disco é perfeito. Paralamas inspiradíssimos naquela época.
Grato pelo comentário e já deu saudade de estar com vocês!
CurtirCurtir