27. Ivan Lins: “Congada Blues”

Quando este projeto foi idealizado, logo imaginei que deveria constar algo de Ivan Lins entre os temas escolhidos. Assim, inicialmente, elegi “Fora Da Lei”, faixa bônus da versão em CD do álbum Amar assim (1988), composição com o onipresente parceiro Vitor Martins, e que revela o lado mais roqueiro de Ivan. No entanto, em setembro de 2023 (e estes textos começaram a ser escritos em 2021), fui surpreendido com o lançamento de My heart speaks, disco em que o cantor, compositor e instrumentista carioca se cerca de, literalmente, dezenas de músicos estadunidenses, e exalta seu lado jazzístico. A obra é marcada por extremo bom-gosto nos arranjos e na instrumentação; os timbres estão tinindo e a voz de Ivan nunca soou tão quente, situando-se levemente acima dos demais instrumentos, mas sem ofuscá-los. As faixas – praticamente todas já lançadas anteriormente – se dividem entre aquelas cantadas por Ivan (como “Renata Maria”, parceria com Chico Buarque que abre o disco magistralmente), as que receberam letras em inglês (com vozes das cantoras Dianne Reeves e Jane Monheit, respectivamente, “The Heart Speaks, versão para “Antes E Depois”, e “I’m Not Alone”, que verte para o inglês “Anjo De Mim”, talvez o único verdadeiro hit relido no álbum) e os temas vocais-instrumentais. Estes são três: o samba “Easy Going”, que, a rigor, não é totalmente instrumental, por trazer o único verso “Easy going, easy going…”, cantado algumas vezes por Ivan; “Missing Miles”, comovente e belíssima homenagem a Miles Davis, com intervenções do trompetista Randy Brecker; e nosso tema de hoje, a inédita “Congada Blues”, de título autoexplicativo, unindo África, Estados Unidos e América Latina, já que a instrumentação destaca as participações do baixista cubano Carlitos del Puerto e do guitarrista uruguaio Leo Amuedo – aliás, para mim, uma das estrelas desse requintadíssimo disco de um artista talvez mais valorizado no exterior do que em sua própria terra.