28. Helena Meirelles: “Fim De Baile”

Não esqueço da cobertura do Fantástico quando da morte de Helena Meirelles, em 2005. Ligado que era em programas musicais, lembrava de já ter visto aquela senhora, de semblante austero, tocando na TV Cultura. No obituário do programa global, foi dito que o Brasil perdia uma de suas mais impressionantes instrumentistas, o que demorei mais alguns anos para comprovar com meus próprios ouvidos. Algum tempo depois, estava no Sesc São Carlos, passando pela comedoria, quando escutei o som de duas violas por perto: eram dois jovens músicos que iriam se apresentar dali a instantes, afinando os instrumentos e aquecendo os dedos, tocando “Guaxo”. Não era tão familiarizado com o repertório da artista sul-mato-grossense, então, dirigi-me aos violeiros e perguntei, para confirmar minhas suspeitas: “Essa é da Helena Meirelles, certo?” E os rapazes sorriam e responderam positivamente, contentes pelo reconhecimento. Pode parecer que foi apenas um encontro bobo, fortuito, mas tal situação ajudou a que eu dimensionasse com mais precisão a importância de Helena: afinal, com milhares de peças de viola para se aquecerem, acabaram por escolher, justamente, a faixa inicial do primeiro álbum da (tardia e curta) discografia da instrumentista. Pois é esse Helena Meirelles (1994) – em algumas edições, com o subtítulo de A grande dama da viola – que tomo como assunto de hoje. O LP trazia 12 faixas, que viraram 18 na edição em CD, com a adição de “Quatro Horas Da Madrugada” e cinco faixas de “Histórias & Causos”, em que Helena conta sobre seu passado, sua família e sua progressiva profissionalização como musicista. Quanto às 13 faixas de música, ali constam temas tradicionais do domínio público (como a própria “Guaxo”, erroneamente atribuída a Helena em certos lançamentos), composições alheias (incluindo compositores do Paraguai, tendo o avô de Helena nascido naquele país) e quatro temas autorais. Ainda, embora o disco seja majoritariamente instrumental, há quatro faixas cantadas: “Me Pega Por Favor”, “Cerro Corá”, “Teu Lencinho” e a já mencionada “Quatro Horas Da Madrugada”. Quanto à música em si, o formato é minimalista: dando vida a gêneros típicos do Paraguai (mas muito conhecidos em todo o Brasil caipira, que compreende boa parte do Centro-Oeste, Paraná, São Paulo e Minas Gerais) como rancheras, guarânias e chalanas, está Helena munida de suas cordas (violas, violões comuns e o violão dinâmico que ela empunha na capa do álbum) e cercada por um trio de violonistas, Francisco Machado, Montanhês e Milton Araújo (este, no violão baixo). Quanto ao tema de hoje, escolho o “Fim De Festa”, que encerra a seção musical do álbum – e imagino que tenha servido, durante a trajetória de Helena, como tema de encerramento de muitas noites de diversão nos “bailes” por ela animados (e, se estou sendo muito sutil, recomendo a escuta da faixa “De Boiadeiros E Bordeis”, na seção de causos).

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