31. Planet Hemp: “Biruta”

Em fins dos anos 1990, Marcelo D2 e a trupe do Planet Hemp prosseguiam na busca pela batida perfeita. Se em Usuário (1995), seu debute, a banda arriscava uma amálgama de gêneros (sintomaticamente intitulada raprockandrollpsicodeliahardcoreragga) que, por vezes, beirava a cacofonia – vide “O Futuro Do País”, que começa como uma emulação de Bezerra da Silva, para se converter num rap furioso sobre uma base metaleira –, em Os cães ladram mas a caravana não pára (1997), disco seguinte, a abordagem musical é mais conservadora, mas, nem por isso, menos interessante. O rap dá a tônica do álbum desde as faixas iniciais, “Zerovinteum”, o hit “Queimando Tudo” e “Hip Hop Rio”, com sutis influências de outros gêneros, o rock nas duas primeiras, o samba na última. Por falar em samba, há uma nova homenagem a Bezerra da Silva, cuja “Malandragem Dá Um Tempo” constitui a base de “O Bicho Tá Pegando”, e uma deliciosa releitura samba-rock para o clássico “Nega Do Cabelo Duro” (de Rubens Soares e David Nasser). Já o hardcore, que em Usuário era bem-representado por “Mary Jane”, aqui ganha mais espaço, com “100% Hardcore”, “Seus Amigos” e a faixa de encerramento, “@#&@#& (Quem Me Cobrou?)”. E não podemos esquecer do funk, presente em “Hemp Family”. Ou seja, todos os principais sons do morro, expressões de resistência estética e política, aparecem em Os cães…, porém, e ao contrário do que ocorria em Usuário, a síntese dá lugar à síncrese: é sempre hip-hop com punk, ou com samba, ou com funk, mas nunca tudo-ao-mesmo-tempo-agora. As curiosidades do álbum ficam por conta de três faixas: “Adoled”, uma brincadeira com o Led Zeppelin, meio que sampleando “The Ocean”, da banda britânica; “Bossa”, vinheta que, como o título indica, satiriza a bossa-nova; e o nosso tema de hoje, “Biruta”, obra composta pelo baixista Formigão e que é a cara do Rio de Janeiro, com guitarras funkeadas, boa base percussiva e uma melodia improvisada à flauta transversal. Entre scratches, guitarras e cuícas, o Planet Hemp, nesse álbum tão importante quanto polêmico, se consolidava como uma das mais interessantes novidades musicais de sua década.

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