32. Choronas: “Choronas Em Sampa”

As Choronas são um dos mais interessantes conjuntos contemporâneos de choro. Com Choronas Sampa (2018), as quatro musicistas dão vida a um repertório majoritariamente oriundo de compositores paulistas. É claro que o ouvinte mais preconceituoso torceria o nariz para um projeto cuja faixa de abertura é a manjadíssima “Tico Tico No Fubá”, de Zequinha de Abreu. No entanto, quem der uma chance às moças irá se deparar com um arranjo que, ainda que reverente à partitura original desse som tão ligado à memória afetiva de São Paulo (e do Brasil), traz elementos novos, como um passeio pelas células dos ritmos do nordeste. O tema seguinte é mais um choro conhecido de quem frequenta rodas, “Atlântico”, de Nazareth. Outro chorão presente é Waldir Azevedo, com “Vê Se Gostas”, cuja execução, com seu ritmo quebrado, exige imenso entrosamento – e isso, as Choronas têm de sobra. Os demais choros exploram a produção de compositores menos conhecidos (como o campineiro Armando Neves, que tem registradas, no disco, duas composições, “O Dono Da Bola” e “Pinheirada”), além de obras das próprias instrumentistas do conjunto. Esse é o caso do nosso tema de hoje, “Choronas Em Sampa”, que, composto pela cavaquinista Ana Claudia Cesar, realmente tem a cara da maior metrópole brasileira. Adornado por uma irresistível cuíca “reclamona”, a faixa cita as introduções que os Demônios da Garoa criaram para as composições de Adoniran Barbosa, e sua harmonia parece elaborada na medida para narrar o instantâneo paulistano, no equilíbrio de drama e resignação, como só o compositor de “Samba Do Arnesto” e “Iracema” conseguia criar. E, por falar em Adoniran, este também está representado no álbum, infelizmente, com duas composições já gravadas e regravadas à exaustão: “Saudosa Maloca” e, fechando o disco, “Trem Das Onze”. Embora não arrisquem invencionices, tampouco são desinteressantes as releituras, já que as Choronas evitam apenas reproduzir as melodias do bom e velho João Rubinato – tão conhecidas do povo brasileiro –, introduzindo alguns improvisos soprados pela flautista Gabriela Machado.

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