33. Dr. Sin: “Experimental Dog”

Nunca chegou perto de ser uma banda favorita e, para ser franco, demorei a me empolgar o suficiente para sentar e escutar com atenção qualquer obra do Dr. Sin. Mas é inegável que o conjunto paulistano é competente ao propor um som pesado, com um pé no hard rock e outro no heavy – sendo claro que o trio formado pelos irmãos Andria e Ivan Busic, mais o guitarrista Eduardo Ardanuy, sempre se esforçou para ser associado mais à cena metaleira, sem angariar o mesmo reconhecimento de bandas como Angra e Sepultura, apesar de também elaborar um repertório autoral em inglês. Na verdade, o som do Dr. Sin junta também outras influências, como o glam rock e o progressivo, e é até bastante acessível, podendo ser descrito como um rock de arena melodioso, mais pesado que o “metal farofa” de Bon Jovi, mas talvez mais pop que a fase pop do Metallica. Tanto é assim que a antologia ao vivo Alive (1999) abre com uma canção de vocação radiofônica (“Karma”), atravessa uma suíte quase progressiva (colando as duas partes de “Down In The Trenches”) e traz sua faixa mais acelerada (“Fire”) após mais da metade do repertório. Junto do registro de sete números ao vivo, o disco traz duas faixas bônus, da qual uma, “Experimental Dog” (criação coletiva do trio), é instrumental, sendo nosso tema de hoje. Há guitarras pesadas e com afinações graves, passagens mais progressivas e até momentos mais funkeados e quase dançantes. Ardanuy está alucinado em suas guitarras e, nos duetos (ou duelos) com Andria, parece trazer até certa influência do dodecafonismo à faixa. Chegando perto do final, aparecem dedilhados melodiosos e quase heroicos. Enfim, é uma obra de difícil classificação: o que, à primeira vista, seria apenas mais um número de metal para assustar rapazotes, acaba enveredando por uma instigante viagem fusion – provando que a música pesada feita no Brasil vai muito além de cabelos voando e gritarias histéricas (de cantores e fãs).