36. Ana de Oliveira: “Posso Chorar Para Violino E Piano”

Qualquer um que escutasse falar sobre um disco instrumental de violino, empunhado por uma solista e spalla de enorme reconhecimento, imaginaria, imediatamente, uma obra repleta de temas clássicos românticos, capazes de tirar lágrimas dos ouvintes com alguma sensibilidade. Mas não é este o caso de Dragão dos olhos amarelos, que a musicista Ana de Oliveira preparou em 2020. Em sua maioria, seus temas são autorais e refletem momentos da trajetória artística da violinista, geralmente na forma de pequenos improvisos, ou pagando tributo a mestres como Bach e Bartók. Há também, nesse passeio autobiográfico, Sérgio Ferraz, com as duas partes de sua “Dodecafonia Para Violino Solo”. De fato, faz todo sentido que o serialismo esteja referenciado nessa obra, já que sua intenção parece ser a de desconcertar, desfazendo a associação entre o som do violino e a música comovente. Ainda, o álbum possui uma tessitura conceitual (não à toa, as primeiras seis faixas são intituladas “Dragão Dos Olhos Amarelos”, variando-se apenas seus subtítulos, como uma grande suíte), daí a dificuldade em tomar qualquer uma delas como tema de hoje. Escolho, assim, “Posso Chorar Para Violino E Piano”, obra que Hermeto Pascoal dedicou a Ana ainda nos anos 1980, e que a violinista, modestamente, alocou como última faixa do disco, explicitando se tratar de um “bônus”. Destoando dos demais temas que a antecedem, este traz Ana de Oliveira acompanhada do pianista André Mehmari (produtor de Dragão dos olhos amarelos, por sinal), apresentando uma composição hermetiana que, como de costume, alia o belo ao complexo, embora não soe nem exatamente clássica, popular ou jazzística.

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