39. Eliane Elias: “Guia Prático, Álbum 1, W 277: nº 4, Manquinha”

Ela é paulistana, pianista talentosíssima e, recentemente (2022), ganhou seu segundo Grammy, na categoria Álbum de Jazz Latino. Apesar de tudo, Eliane Elias é relativamente pouco conhecida no Brasil, já que sua carreira se desenvolveu, mesmo, nos Estados Unidos, onde a musicista vive desde 1981.

Embora tenha se notabilizado por um repertório essencialmente cancional, nos últimos anos, com forte apreço pela bossa-nova (contribuindo para propagar ainda mais no nome de Tom Jobim no exterior), Eliane tem um respeitável passado no jazz instrumental – faceta, aliás, que só foi retomada justamente nesse seu premiado disco Mirror mirror (2021), sendo que a artista não lançava um álbum apenas pianístico desde 1995.

E, falando de registros ao piano, um título em especial se destaca no contexto da discografia de Eliane: trata-se de On the classical side (1993), em que a instrumentista revisita sua formação em música erudita. O álbum registra números diversificados de quatro autores, associados a diferentes movimentos estéticos, em peças relativamente curtas. O barroco está retratado por Bach; o romantismo, pelas mazurcas de Chopin; Ravel representa os impressionistas; e o modernismo chega por meio de Villa-Lobos.

Eliane, em sua formação, desenvolveu uma técnica de ligado que procura ressaltar a sonoridade do piano enquanto instrumento de corda (em contraposição à técnica de ataque, que explicita seu caráter percussivo). Isso se evidencia nos temas mais melódicos que perfazem On the classical side, como o belo e conhecido prelúdio “Introdução”, da “Bachiana nº 4” de Villa-Lobos, o “Loure” de Bach e as quatro peças de Chopin. Mas, além desses momentos de brandura, não faltam arroubos de energia pulsante, como na “Festa Do Sertão”, que abre o álbum, e no “Animé” de Ravel.

Apesar de gostar muito da execução de Eliane para o mencionado prelúdio das Bachianas, tomo como tema de hoje a “Manquinha”, que compõe o Guia prático do maestro brasileiro. O tema é carregado de uma melancolia meio saudosista, que se aprofunda na seção em que a harmonia modula de Sol Maior para Si Menor; mas, afinal, tudo se resolve – e a forma delicada com que Eliana o executa (diferente do que propõem outros pianistas; por exemplo, a execução de Arthur Moreira Lima é marcada pela dinâmica e por um andamento mais célere) só ressalta a singeleza da melodia popular, que parece se conectar tão facilmente com as memórias de nossa infância.

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