77. Chorando as Pitangas: “Choro Pra Luísa”

O choro é secular e há quem pense estar já esgotado enquanto gênero (se é que é gênero, aliás). Afinal, 90% do que se registra de repertório chorão, na atualidade, consiste na releitura de clássicos. Pois, contrariando essa tendência e provando que ainda há muito o que se criar – em arranjo, instrumentação e composição –, o Chorando as Pitangas apresentou, em 2022, seu terceiro álbum, Terceira dose. Aludindo, no título, ao clima de otimismo com as sucessivas doses de vacinas contra a covid-19, o quinteto paulistano veio com um disco de repertório inédito, em altíssima temperatura, como denunciam as cores quentes da belíssima arte da capa. No conjunto, convivem a formação clássica dos regionais – com Milton Mori (bandolim), Roberta Valente (percussão), Ildo Silva (cavaquinho) e Gian Corrêa (violão) – e o originalíssimo toque de Vitor Lopes na harmônica, adicionado um leve sabor folk às composições. Terceira dose, apesar de seu pendor autoral, não deixa de render seus tributos, a exemplo das faixas “Relembrando K-Ximbinho” e “Pro Penezzi”. Além das homenagens, há as participações especiais: do violinista Ricardo Herz, que toca na sua “Pitanga No Samba” (contando também com a percussão de Júlio César Barros) e na mencionada “Pro Penezzi”; de Chico Pinheiro, cuja guitarra traz um ar levemente jazzista a “Choro For Mark”; e dos Barbatuques, no encerramento do álbum, “Barbatucando”, e no surpreendente “Choro Pra Luísa” – composição de Renato Epstein, membro do conjunto de percussão corporal, e tão boa e inovadora que é nosso tema de hoje.

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