86. Água de Moringa: “Vamos Lá”

O Água de Moringa é uma das revelações da música instrumental brasileira das últimas décadas. Formado por acadêmicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conseguiu se impor, a partir dos anos 1990, pelas interpretações despojadas, leves e calorosas, ainda assim competentes, de um repertório chorão de primeira qualidade. Em As inéditas de Pixinguinha (2002), o conjunto dá vida a 10 temas instrumentais, mais 3 canções, selecionadas a partir de um conjunto de 40 supostas composições jamais gravadas do autor de “Carinhoso”. Como afirmou o cavaquinista Jayme Vignoli, alguns desses temas já haviam sido apresentados com outros nomes, não sendo exatamente inéditos; outros vinham de partituras em que Pixinguinha simplesmente arranjava composições alheias. A seleção de 13 das 29 obras que restaram não decepciona, e o ouvinte familiarizado com a musicalidade do maestro se sente em casa desde a faixa de abertura, o divertido maxixe “Viva João Da Baiana”. O tango brasileiro está representado em outras duas faixas, “Dengo Dengo” e “Meu Sabiá” (este, marcado pela habilidade de Josimar Carneiro no 7 cordas, e por uma curiosa seção que remete ao ritmo da salsa, com marimba e tudo). Como esperado, o disco traz também belas valsas, a exemplo de “Valsa Triste” e “Os Que Sofrem”. Ao lado dos choros mais tradicionais, “Machuca Mané” e “Os Que Sofrem”, uma faixa se sobressai, sendo, assim o tema de hoje: “Vamos Lá”. Trata-se de um baião, provando que Pixinguinha cabe até num bom São João, com direito a, no lugar do acordeon ou de pífanos, clarinete, bandolim e até piano – este, pelas hábeis mãos de Cristovão Bastos, numa participação especial marcada pela sobriedade, sem aparecer demais, mas deixando também sua marca. Para além desse interessante momento que une Pixinguinha ao Nordeste, As inéditas de Pixinguinha tem como destaque as três canções, nada menos que lundus-africanos, todos com letra de Gastão Viana e trazendo outros convidados de luxo, vindo de algumas das mais importantes escolas de samba do Rio de Janeiro: “No Terreiro De Alibibi”, com Nei Lopes, ligado ao Salgueiro e à Vila Isabel; “Kalu”, com outro bamba de peso, Martinho da Vila; e “Maria Conga”, em que Monarco, da Velha Guarda da Portela, deixa seu registro vocal grave e inconfundível.

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