88. Antonio Nóbrega: “Corisco”

O mestre Lourival Oliveira compôs uma série de frevos intitulados em homenagem a Lampião e seu bando. Um desses temas é “Corisco”, que ganhou uma releitura minimalista por Antonio Nóbrega em Nove de fevereiro, vol. 2, álbum de 2007 que colige diversas peças do gênero, cantadas ou instrumentais. Acontece que Nóbrega já havia registrado essa composição num projeto anterior. Em Na pancada do ganzá II (1996), seguindo os passos de Mário de Andrade (que almejava discorrer sobre as danças tradicionais brasileiras, justamente, numa obra intitulada Na pancada do ganzá, projeto nunca concluído), o músico reúne uma série de temas, muitos de domínio público, representando as trilhas dos festejos populares brasileiros. Como que dando continuidade, de certa forma, ao ideário do Movimento Armorial (de que participou ativamente, integrando o Quinteto Armorial a convite de Ariano Suassuna), Nóbrega empunha rabecas e violinos e apresenta elaboradas releituras para diversos temas de cantorias e bailados, com ênfase em frevos e maracatus. Mas Na pancada do ganzá II vai além dos ritmos que agitam o carnaval de Recife, registrando também as tradições do coco, da ciranda, do repente e da embolada, entre outras manifestações. Curiosamente, a releitura de “Corisco”, nesse álbum, começa não pelo frevo, mas por um maxixe pra lá de “chorado”, com Nóbrega trocando o violino pelo bandolim. Lá pelas tantas, brota sim uma frevança – e das boas, com caixa e muitos metais –, mas a inusitada roupagem chorona, que agrega certo ar europeu ao frevo de Lourival Oliveira, tem um charme único. Esse é nosso tema de hoje.

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