102. Dirceu Leitte: “Sete Cordas”

Leitte de coco é jocoso título do álbum de estreia de Dirceu Leitte, lançado em 1994. Nele, o músico gaúcho aparece munido de seus sopros – flautas, saxes e a clarineta – para apresentar temas do Brasil urbano e rural, do Sudeste ao Nordeste, com um respeitabilíssimo rol de convidados.

A abertura é feita com “Atlântico”, clássico de Nazareth, situando o disco no universo do choro e mostrando o artista entrosado com seu regional, que traz os competentes Márcio “Hulk” Almeida no cavaquinho, Toni no 7 cordas e Eduardo Lyra na percussão. A faixa seguinte é nosso tema de hoje: a maravilhosa “Sete Cordas”, composição de Paulo César Pinheiro e Raphael Rabello, com apenas este acompanhando Dirceu e sua flauta – e é tudo sublime demais! Tem Pixinguinha também, em duas peças divertidas e nada óbvias: “Minha Vez”, com as participações de Tomás Improta nos teclados e de Zé Luiz Maia no baixo; e “Gargalhada”, em que Dirceu convence com senso melódico e virtuosismo. “Todo O Sentimento” é outra surpresa no repertório; canção de Chico Buarque e Cristovão Bastos, traz apenas o pianista ao lado de Dirceu, num dos momentos mais solenes de Leitte de coco.

Na primeira grande inflexão do álbum em termos de gênero, surge um tema autoral, “Jazzvanês”. Reforçada com um time de peso – Luizão Maia no baixo, Wilson das Neves na bateria, Helvius Villela nos teclados e, novamente, Raphael Rabello no violão –, a faixa pode ser descrita como uma jazz-valsa, soando como se executada por uma big band, já que Dirceu a sustenta com seus três instrumentos em uníssono.

Retornando ao choro, o álbum registra uma das gravações derradeiras do maestro e acordeonista Orlando Silveira, tocando com Dirceu seu “Perigoso” (composto com Esmeraldino Salles). Aqui, o flautista está acompanhado, também, de um “quase-Época de Ouro”, com as presenças de Dino 7 Cordas, Dininho (baixo) e César Faria (violão), além de Luciana Rabello (cavaquinho). Essa formação se repete na faixa de encerramento, o festivo samba “Morena Boca De Ouro” de Ary Barroso, que ainda tem a adesão de outro ex-Época de Ouro, o bandolinista Déo Rian.

Destoando do restante do repertório, está a balada “Cigarra”, de Milton Nascimento, incorporando outra formação: além de novamente Zé Luiz Maia, tem Alfredo Galhões nos teclados e Octávio Garcia na bateria, mais a participação do célebre violonista João de Aquino. E adiante, uma seção de três faixas autorais, nenhuma com a mesma formação: o samba “Simplesmente”, com João de Aquino novamente, mais Clara Sandroni (voz), Alex Meirelles (teclados), Wilson Meireles (percussão) e André Neiva (baixo); “Pela Vida”, peça maravilhosa que mostra o quanto Dirceu aprendeu com Pixinguinha a construir melodias desconcertantes, com o mesmo regional do início do álbum; e “Yulylá”, que começa como uma balada, até enveredar para um arrasta-pé dos bons, conduzido por Zé Gomes (zabumba), Laudir de Oliveira (percussão), Claudinho do Acordeon e, novamente Galhões nas teclas. “Harmonia Selvagem”, de Dante Santoro, fecha o repertório, sendo um virtuosíssimo choro que faz jus a seu título, embora também nos surpreenda com uma incursão pela música nordestina, em seu minuto final.

Clássico atemporal da música brasileira instrumental, Leitte de coco foi lançado pela Caju Music e foi indicado ao 7º Prêmio Sharp de Música Brasileira, na categoria Revelação Instrumental.

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