115. Gui Silveiras: “Chora Bandida”

Gui Silveiras representa uma geração de músicos brasileiros cuja produção vem se destacando por unir uma educação musical sistematizada (decorrente da formação no renomado Conservatório Musical de Tatuí) com o resgate da cultura afro e dos ritmos regionais. Em sua estreia solo, Caburé (2013), o paulista se apoia em gêneros como baião, choro e jazz, apresentando um conjunto de canções belas e moráveis, sem abdicar, também, do bom humor. A faixa de abertura “Fuga De Nego” lembra João Bosco ao misturar ponto de umbanda com uma trilha jazzística tensa e quase cinematográfica, como que narrando a tal “fuga de nego” para um quilombo. Logo depois, a “Cantiga De Rodar-De-Mão”, que junta valsa e ciranda, remete a outra influência: Guinga. “Assalto A Baião Armado” e “Embaionado”, desde os títulos, já se apresentam como tributos ao gênero para sempre associado a Luiz Gonzaga – embora, em Caburé, o instrumento principal seja o violão (daí a tessitura essencialmente acústica do álbum), e não o acordeon (mas que também está presente, marcando “Mataram Meu Deus”). Já a faixa-título, retomando o tema da escravidão do negro, soa mais experimental, tanto por sua inspiração percussiva (novamente, nos ogãs dos ritos afrobrasileiros), quanto por suas brincadeiras com os metais. Falando nisso, nada supera o samba “Quer Macaco, Banana?” – e só ouvindo para entender do que estou falando. Quando presentes, as guitarras soam mais acústicas que elétricas, a exemplo da bela valsa “Don Peralta”, que conta com os vocais da coautora, a argentina Lucía Spivak. A propósito, Caburé é quase totalmente autoral, exceto pela mencionada “Assalto A Baião Armado”, de Zeca Barreto, parceiro de Silveiras em cinco faixas (os outros parceiros são Lucía e André Fernandes). Dentre as poucas composições apenas de Silveiras, está o único tema instrumental, aliás, vocal-instrumental, numa moderna linguagem chorona (como já fica claro desde o título, “Chora Bandida”), propondo um diálogo entre trombone, clarineta, violão e as vocalizações do autor. Ao público do blog, recomendo ainda “Parada Babilônia”, logo a mais jazzística, e que, não fossem os versos “Parada Babilônia / Parada Babilônia”, repetidos como um mantra, poderia ser outro tema vocal-instrumental desse belo álbum que é Caburé.

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