Gui Silveiras representa uma geração de músicos brasileiros cuja produção vem se destacando por unir uma educação musical sistematizada (decorrente da formação no renomado Conservatório Musical de Tatuí) com o resgate da cultura afro e dos ritmos regionais. Em sua estreia solo, Caburé (2013), o paulista se apoia em gêneros como baião, choro e jazz, apresentando um conjunto de canções belas e moráveis, sem abdicar, também, do bom humor. A faixa de abertura “Fuga De Nego” lembra João Bosco ao misturar ponto de umbanda com uma trilha jazzística tensa e quase cinematográfica, como que narrando a tal “fuga de nego” para um quilombo. Logo depois, a “Cantiga De Rodar-De-Mão”, que junta valsa e ciranda, remete a outra influência: Guinga. “Assalto A Baião Armado” e “Embaionado”, desde os títulos, já se apresentam como tributos ao gênero para sempre associado a Luiz Gonzaga – embora, em Caburé, o instrumento principal seja o violão (daí a tessitura essencialmente acústica do álbum), e não o acordeon (mas que também está presente, marcando “Mataram Meu Deus”). Já a faixa-título, retomando o tema da escravidão do negro, soa mais experimental, tanto por sua inspiração percussiva (novamente, nos ogãs dos ritos afrobrasileiros), quanto por suas brincadeiras com os metais. Falando nisso, nada supera o samba “Quer Macaco, Banana?” – e só ouvindo para entender do que estou falando. Quando presentes, as guitarras soam mais acústicas que elétricas, a exemplo da bela valsa “Don Peralta”, que conta com os vocais da coautora, a argentina Lucía Spivak. A propósito, Caburé é quase totalmente autoral, exceto pela mencionada “Assalto A Baião Armado”, de Zeca Barreto, parceiro de Silveiras em cinco faixas (os outros parceiros são Lucía e André Fernandes). Dentre as poucas composições apenas de Silveiras, está o único tema instrumental, aliás, vocal-instrumental, numa moderna linguagem chorona (como já fica claro desde o título, “Chora Bandida”), propondo um diálogo entre trombone, clarineta, violão e as vocalizações do autor. Ao público do blog, recomendo ainda “Parada Babilônia”, logo a mais jazzística, e que, não fossem os versos “Parada Babilônia / Parada Babilônia”, repetidos como um mantra, poderia ser outro tema vocal-instrumental desse belo álbum que é Caburé.